quarta-feira, 4 de abril de 2012

Isep – A Mcdonaldizacao do ensino


 


 


 


 

INTRODUÇÃO

Na sanha consumista da sociedade atual, a educação encontra-se em situação de destaque no que se refere venda de serviços. MBAs, centros politécnicos, cursos de pós graduação, enfim um sem número de ofertas de especialização rápidas para adequar o pretendente a empregos aos tempos atuais, que desfiguram de certa forma a educação no Brasil.

Não pretendo fazer com este artigo a avaliação desta ou daquela instituição, mas repensar a própria educação como um todo, em seu processo democrático e característico, diante as mudanças que se anunciam, se faz necessário para o "repensar" dos objetivos educacionais que devemos priorizar no país.

Neste contexto, cabe analisar com profundidade e isenção o processo de padronização pelo qual passa a educação na atualidade, denominado de McDonaldização pelos autores do estudo em que se baseia este artigo, professor e bolsista da área de administração, incomodados com esta padronização que descaracteriza a apreensão de conhecimentos como tarefa democrática.

RESUMO


Este artigo expõe o mais novo ataque sofrido pela educação como forma de aquisição de conhecimento crítico, impetrado por aqueles que não vêem qualidade e posicionamento crítico como metas pedagógicas.
Visa demonstrar mais uma americanização consumista que sofre o povo brasileiro na sanha colonialista que determina o que deve ser bom para o terceiro mundo aprender, a fim de se consolidar como mercado.


 

"A McDONALDIZAÇÃO DO ENSINO"


 

Assim como na alimentação, a neurose coletiva estadunidense, pela economia de tempo (para o retorno ao trabalho) que se fez copiar pela maior parte do mundo, como um tributo à globalização, chegou à educação.

Da mesma forma que na alimentação, algumas instituições educacionais vêm buscando a padronização na educação, até mesmo para não se correr o risco de Ter a valorização do diverso, do individual. Mas, porque se busca padronizar algo que deveria ser, antes de mais nada, individualizado, como a capacidade cognitiva de cada um?


 

O PAPEL DA GLOBALIZAÇÃO NA PADRONIZAÇÃO DO ENSINO


 

Quando observamos a sociedade pós moderna, percebemos que, junto com a globalização, que é atualmente, conceito de modernidade, ressurgiram modelos sociais que esta mesma globalização, paradoxalmente repudia; como por exemplo os velhos conceitos de nacionalismo, etnia, fundamentalismo religioso e outros. A globalização os repudia, não por serem discriminadores em si. Mas, por não poder padronizar seu consumo; a oferta de "suas necessidades". Assim, a necessidade dos "inventores da globalização" de padronização, visa a adequação dos consumidores aos produtos oferecidos, contrastando Adam Smith nas suas "leis de mercado".

E como funcionaria isto na educação? Simples: se eu tenho uma educação padronizada, meus sonhos, desejos, aspirações, minha capacidade de crítica e a própria capacidade de sonhar, têm grandes possibilidades de também poderem ser padronizadas, e isto interessa ao "patrão".

Padronizar a educação é, em última análise, desvalorizar o profissional de educação. Este passa a ser "show man", alguém que, tal e qual um apresentador de programas de auditório, seguem o roteiro, o script feito por outros, sem permitirem desvios para impedirem a fuga, o questionamento que, de acordo com sua visão, demanda em perda de tempo!


 

A DISTINÇÃO ENTRE A ADMINISTRAÇÃO E A EDUCAÇÃO COMO META


 

Analisando os princípios administrativos do McDonald's, vemos que se baseia no seguinte quadrilátero:

  • Eficiência – pronto atendimento, minimização de erros etc.
  • Calculabilidade – capacidade de planejamento.
  • Previsibilidade – capacidade de gerenciamento.
  • Controle de metas – otimização dos objetivos.


 

Em nível empresarial, estes conceitos são de uma modernidade ímpar. A eficiência pregada, treinada, proposta pela empresa, age como modelo, até mesmo de propaganda, fazendo com que seus produtos adquiram o status de "pedido natural" dos consumidores.

O planejamento das atividades; inclusive a forma de atendimento, visam trazer proximidade entre a empresa e seus clientes, sendo também de grande importância no estabelecimento do vínculo entre empresa e clientela.

A previsibilidade tira de cena o risco; se há possibilidade de se prever tudo, em seus mínimos detalhes, o inusitado, o inesperado fica de fora, permitindo uma melhor performance, graças à padronização; do atendimento, das ofertas, dos sorrisos!

O controle de metas funciona como um instrumento frio de medição das possibilidades de cada loja, agindo empresarial e friamente para minimizar possíveis prejuízos.

É fácil, portanto, ver-se que empresarialmente falando, o sucesso do McDonald's é óbvio e cientificamente justificável. Porém, quando pensamos em educação, estes princípios parecem estar fora das possibilidades, fora do modo coerente de agir, dos princípios norteadores da empreitada.

Como poderíamos vincular o quadrilátero administrativo McDonald's à educação? A eficiência medida na lanchonete, esbarraria no caráter individual da aprendizagem pois, de que forma se poderia garantir a eficiência da apropriação do conhecimento por parte do aluno?

A calculabilidade ficaria igualmente prejudicada, pois há na educação, um fator extremamente dificultador de cálculos que é o ser humano, onde se processa a aprendizagem.

A previsibilidade estaria impossibilitada em função de que, o desenvolvimento intelectual dos jovens e adultos é de toda forma, imprevisível.

Por último; como se manter controles de metas educacionais rígidos, como determina a administração dentro dos parâmetros McDonald's, diante da dificuldade, da quase impossibilidade de calcular, otimizar, prever e controlar a problemática gerada pelo processo educacional?


 

A KINDERCULTURALIZAÇÃO DA INFÂNCIA


 

É assim, deste modo, que a kindercultura e a McDonaldização começam a se confundir. Não no sentido de perderem a coerência um com o outro, mas sim no sentido de, na verdade, passarem a expressar a mesma coisa.

Kindercultura é, exatamente a apropriação, por parte das grandes empresas do processo educacional, mesmo que anterior à escola. É a transformação da infância em um processo voltado para o enriquecimento corporativo e para o esquecimento de que uma educação imposta não educa; formata!

Quando não permitimos que o processo de crescimento, de passagem da verdadeira infância para outras fases de amadurecimento ocorra de forma construtivista, ou seja: quando não respeitamos o conhecimento adquirido pelas crianças , não proporcionamos seu desenvolvimento, quando formatamos sua educação.

Isto fica bastante claro, ao analisarmos o texto (já citado) de Shirley R. Steinberg in Identidade Social e Construção do Conhecimento de Silva, Azevedo e Santos (1997).

"A infância é um artefato social e histórico e não simplesmente uma entidade biológica. Muitas pessoas argumentam que a infância é uma fase natural do processo pelo qual as pessoas se tornam adultas. Na verdade, aquilo que, nesses últimos anos do século XX, tem sido chamado de "infância tradicional" , tem apenas 150 anos. Na Idade Média, por exemplo, as crianças participavam cotidianamente do mundo adulto, adquirindo conhecimentos e habilidades profissionais er vitais como parte desse envolvimento. O conceito de criança como uma categoria particular de seres humanos que exigem tratamento especial, diferente do dos adultos não tinha ainda se desenvolvido na Idade Média."


 


 


 

A autora mostra que a não inclusão das crianças em um contexto histórico social abrangente, que sua inclusão np mundo "redômizado" da infância moderna, que afasta-a de seu convívio familiar como forma de proteção, inclusive permitindo que o Estado interfira de forma brutal na relação entre os indivíduos da mesma família (ressalvas feitas àquelas estruturas familiares anormais onde a criança corre efetivo perigo) mas, paradoxalmente, lhes abre as portas de um mundo adulto, onde uma nova cultura infantil, uma que em função da sanha capitalista da sociedade moderna perde valores e ganha consumidores sem valores familiares como limites.


 


 


 


 


 


 


 


 

CONCLUSÃO

Concluímos então, que o fato da empresa, a rede de lanchonetes poder se esquecer do individual, da surpresa que seria o desenvolvimento cognitivo do ser humano, permite tê-la como modelo referencial de administração. Entretanto, ao se tentar o mesmo tipo de ação na educação, poda-se o desenvolvimento intelectual do indivíduo, formatando-o, e até prova em contrário, a educação é implementada por e, sobre homens, cada qual com sua idiossincrasia. Tentar formata-la, não é educar, mas adestrar; o que por si, desumaniza, animaliza, domestica...não cremos ser isto o melhor para o Homem do terceiro milênio.

O processo discutido aqui, como bem ressalta o texto de Rafael Alcadipani e Ricardo Bresler, adestra o profissional de educação, "travestindo-o" de professor. Padroniza-se o pensamento, como no passado loteou-se o céu, a fim de Ter controle sobre as mentes dos homens! Padroniza-se a pesquisa, transformando o conhecimento em mercadoria, padroniza-se o conhecimento, descortinando-se um mundo de possibilidades previsíveis de negócios...padroniza-se o "ideal de professor", para evitar-se o "diferencial".

A questão a se definir e responder é a seguinte: em um mundo padronizado como em um pesadelo de Oscar Wilde ( vide admirável mundo novo ), quem seria o "grande irmão" ? a quem esta padronização beneficiaria? Ao proletariado? Acredito que não pois, uma vez padronizado, ficaria ainda mais fácil determinar o que este proletariado ( assuma-se o sinônimo de população de baixa renda ) estaria aprendendo e, se eu tenho o controle do que o outro sabe, sei como ele pensa e posso controlar seus desejos e aspirações.

Vemos então que esta padronização favorece o controle do capital do próprio pensamento da grande massa. Ora, isto reforçaria, como me parece evidente, as condições de exploração pois daria a quem explora a exata noção de quanta pressão empregar antes de mudar o método, o que requer um custo adicional. Na verdade esta padronização vai contra os modernos conceitos de educação crítica, propostos por nomes como Peter McLaren e Stuart Hall, para falarmos só de nomes internacionais propõe.

Na verdade este novo(?) modelo de educação veio resgatar o antigo conceito de educação tradicional transfigurando-o para parecer liberal mas, formatando tanto quanto àquele e com uma agravante: sem dar oportunidade às exceções de criarem, como diriam os existencialistas, um novo ser, a partir do ser que foi criado por outros.

Ao mesmo tempo, para satisfazer ambições das grandes corporações, transformou-se as crianças, e mesmo os adultos que não são capazes de distinguir desejo de manipulação em autômatos que vêem a vida como um kinder ovo: não importa se a surpresa que traz seja agradável ou não, deve ser consumida para colecionar-se o conteúdo, por mais que este não tenha significado!


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 

Key Works

Administração, Educação, Padronização, Globalização

Para onde segue a Educacao brasileira?

ISEP - A McDonaldizacao do ensino

quinta-feira, 29 de março de 2012

Seria Deus um mito?

Participe expressando a sua opnião/comentário.
Abaixo, segue um texto para aprofundamento da questão.
                         


MITO, A PRIMEIRA EXPLICAÇÃO DA REALIDADE

POR
Noraldir Viana Mariano

Junho 2009


RESUMO
Como diria George Gusdorft: “ A consciência mítica  é, tanto quanto a filosófica, uma maneira de organizar um conhecimento sobre a realidade”. Se partirmos da premissa de que consciência é a maneira  de como cada ser  observa determinada coisa ou acontecimento, podemos dizer que, diante da realidade desconhecida e desconcertante, o Homem primitivo tinha, assim como o Homem moderno tem, a necessidade de uma ordenação que traga “sentido” ao caos presente a seu redor, cuja primeira ordenação (aquilo que o homem não compreende), quer tenha tido base na religião, ou não foi o mito. Este entra em cena quando as mentes têm necessidade de segurança, apossa-se da realidade, ou melhor, de alguns aspectos dessa realidade (os mais simbólicos) e transforma as premissas (mesmo que falsas) em relatos, considerados pelos grupos como verdades. 

ABSTRACT
How George Gusdorft would sai: “The mythical conscience is, so much as for philosophical, a way of organizing a knowledge on the reality”.If we leave from the premise of what conscience it is the way of as each being observes determined thing or event, we can say that, before the unknown and disconcerting reality, the primitive Man had, as well as the modern Man has, the necessity of an ordering that brings “ sense “ to the chaos present at his outline, which first ordering (what the man does not understand), he wants has had base in the religion, or it was not the myth. This one enters on the stage when the minds need security, take possession of the reality, or better, of some aspects of this reality (the most symbolic) and it transforms the premises (even that you cheat) in reports considered by the groups like truths.


MITO, DOGMA E VERDADE
   
O pensamento mítico entra em cena quando as mentes, primitivas e da atualidade, necessitando de segurança e, na impossibilidade de abstrair-se em pensamentos lógicos devido sobretudo ao medo e à própria estranheza causada pelo caos do real, apossam-se, ainda que apenas intelectualmente e apenas em parte da realidade ou de aspectos dessa realidade (apenas os mais simbólicos) melhor dizendo;  do que julgam  ser real naquele momento transformando as premissas ( ainda que falsas) em mito.
Aqui cabem algumas considerações a título de explicação: quando dizemos que na antiguidade se tinha pelo menos, dificuldade de abstração, queremos dizer que havia dificuldades na introspecção para fins de racionalizar aquilo que se apresentava aos Homens como real. É, de certa forma, a comprovação do “Mito da Caverna” uma alegoria de Platão que procurava demonstrar o quanto as aparências enganam. Do mesmo modo, quando se fala em consciência filosófica a referencia é quanto à capacidade de ordenação lógica do pensamento.
Ao contrário do pensamento abstrato (aquele que se afasta do mundo para ter uma clara visão do real), o pensamento mítico não busca as verdades objetivas das coisas. O mito procura explicar os fatos quer sejam naturais ou culturais (explicando assim a realidade ou o que se apresenta desta forma) por intermédio de outros fatos e realidades sensíveis ao meio. Desta forma mais uma vez, a análise do conhecimento mitaico volta a fazer referência a Platão, em sua teoria dos dois mundos (Mito da caverna) já que para Platão, a visão que temos deste mundo não é a realidade, não passando de aparência, reflexo, cópia da própria realidade. Na verdade para Platão o verdadeiro mundo seria o das  idéias, que era o lugar das coisas verdadeiras de forma a que um Homem ( as maiúsculas se referem à espécie humana) no mundo das idéias seria correspondente a Pedro, Amália, Joaquim etc., no mundo das aparências,  assim a condição singular do Homem seria representação de sua condição genérica, mais ampla de uma espécie.

Podemos ainda dizer que o Mito é um axioma filosófico, uma verdade inquestionável, um dogma que, na verdade não chega a explicar o caos , mas impede o questionamento a respeito do mesmo, transformando crenças imponderáveis em verdades dogmatizadas que não se querv ou pode questionar. Este dogmatismo serviu, no passado, às aspirações das rteligiões, que ainda hoje, fazem uso de tal prática para impor a aceitação cabal de sua maneira de ver a realidade, ou seja, seus mitos. Não quero com isso desmerecer as práticas religiosas, pelo contrário, avcredito nelas como uma necessidade dentro daquilo que defino, caracterizo  e vejo como sendo a função do mito em  seu papel sócio cultural.
Para melhor entender o que seria na verdade um mito, é necessário uma reflexão a respeito dos mesmos.  Etimologicamente falando, de acordo com Sátiro e Wennsch em Pensando Melhor (2000, pág. 132) 
“mythos significa “palavra”, ”o que se diz”. Muito se diz dos mitos. Escolhemos uma concepção que foi retomada por Platão que considera um mito um modo de expressar certas verdades que escapam ao raciocínio”. Há aqui mais uma referência ao “mito da Caverna” a já citada alegoria de Platão que sugere que o que comumente chamamos de realidade, não passa de uma visão particular do mundo, sem compromisso com a busca da verdade. 

Ao mesmo tempo, Chauí (convite a Filosofia, 2005. pág. 88) prega que o papel da filosofia é exatamente a busca da verdade quando afirma que:

“Não se aprende Filosofia, mas a Filosofar”, já disse Kant. A Filosofia não é um conjunto de idéias e de sistemas que se pode aprender automaticamente, não é um passeio turístico pelas paisagens intelectuais, mas uma decisão ou uma deliberação orientada pela verdade. É o desejo do verdadeiro que move a Filosofia
 Afirmar que a verdade é um valor significa que o verdadeiro confere às coisas, aos seres humanos, ao mundo um sentido que não teriam se fossem considerados indiferentes à verdade ou a falsidade.

E continua valorizando a descoberta da diferença entre verdade e falsidade ou uma “verdade imaginária” (ibidem, pág. 88)

Quando uma criança ouve uma história, inventa uma brincadeira ou um brinquedo,  quando joga, vê um filme ou uma peça teatral, está sempre atenta para sabr se é verdade ou “de mentira”, está sempre atenta para a diferença entre o de mentira e a mentira propriamente dita, isto é, para a diferença entre brincar, jogar, fingir e faltar à confiança quando uma criança brinca, joga e finge, está criando um outro mundo, mais rico e mais belo, mais cheio de possibilidades e invenções do que o mundo onde , de fato, vive. Mas sabe, mesmo que não formule explícitamente tal saber que há numa diferença entre imaginação e percepção, ainda que no caso da criança essa diferença seja muito tnue, invisível, quase imperceptível – tanto é assim que a criança acredita em mundos e seres maravilhosos como parte do mundo real de sua vida.

Assim, como podemos ver a criança não mente simplesmente, ela tem como verdade aquilo que sua imaginação se propões a determinar como tal. Da mesma forma, as mentes primitivas ou sem a capacidade atual de abstração, na necessidade de arrumar sua própria imaginação e os mundos surreais que o desconhecimento das forças naturais escondiam; passando a criar mitos sobre tais coisas, dogmatizando e impedindo a especulação sobre esses fatos., o que de resto impede “ o Filosofar”.
Estes Dogmas ganharam força imensurável com a criação das religiões e a premissa de que, para atingir o paraíso metafísico (além do físico) era imprescindível o estado de bem aventurança trazido pela fé. Acontece que a fé é a “inimiga primeira”  da Filosofia já que esta impede a evolução daquela pois uma (a Filosofia) questiona sempre e a outra (a Fé) nunca questiona. É possível então relacionar o fortalecimento dos mitos  à   religiosidade dos Homens, tendo em vista que por definição o mito é o tipo de pensamento feito com elemento sensíveis e concretos apenas ( não há como obter provas a respeito dos mitos e na presença da lógica, do raciocínio eles desaparecem ), mas ao mesmo tempo, é um tipo de conhecimento representativo do meio e de seus problemas ou seja, em uma localidade onde a queda de raios é um fato corriqueiro, e, não podendo explicar a causa dessas quedas, a mente concreta cria o mito de um “castigo de um deus malévolo” buscando vingança pelos pecados dos Homens. 
Em suma, é um conjunto fechado de conhecimentos que apesar delimitado e limitante, é capaz de ordenar e dar significado para as realidades do meio, importantes e prioritárias ao ser humano e, a despeito de ser limitado, de não conter e não permitir generalizações, não permitindo, portanto, deduções ou raciocínio, conceitos ou a possibilidade  de se obter através dele, conclusões, atende às necessidades mais básicas de segurança das mentes menos complexas. À medida que o Homem evoluiu, dando complexidade a sua visão de mundo o mito tendeu a não ser mais visto como verdade universal, deixando de ter a conotação filosoficamente axiomática ( a de verdade inquestionável) anterior.


FILOSOFIA, A SUPERAÇÃO DO MITO
A Filosofia surge a partir da complexidade oriunda Dio fortalecimento do EU-PENSANTE, onde o Homem que filosofa afasta-se do mundo, abstrai-se, retira-se do problema para poder analisá-lo. O EU-PENSANTE, que antes fundia-se com as coisas, tornando-se ele próprio coisa também, passa a sentir uma crescente necessidade de afastar-se do mundo exterior como objeto de sua reflexão, conforme podemos ver nos diagramas abaixo:                                                                      



Como se pode ver, o EU-PENSANTE, antes do surgimento da Filosofia, misturava-se com a realidade física e a realidade social, o que o impedia de fazer uma análise lógica das mesmas, concretizando conceitos  sem permitir generalizações .
A partir do surgimento da Filosofia  (que afasta o mundo exterior do EU-PENSANTE), o mito perdeu força para dar espaço a um conhecimento reflexivo da realidade

                                                                                                 


A visão destes esquemas deixa claro que o mito, tem funções específicas que se caracterizam por acomodar e dar confiança ao Homem,  já que pressupõe  que aquilo que acontece no mundo natural seja uma dependência dos atos dos Homens, assim sendo, não há o que temer se estes seguem as determinações de forças sobrenaturais (deuses) fixando padrões modelares para suas atividades e atitudes. Além disso, é importante perceber que o tipo de conhecimento mitaico é ritual (aquele onde a repetição torna o conhecimento do passado um conhecimento atual, sem compromisso com a verdade, mas com  particularidades representativas definidas, por exemplo: O mito é sempre coletivo; não há individualidade no conhecimento mitaico, o grupo segue sempre o mesmo padrão. Existe antes do indivíduo; não é singular, é plural. É sempre dogmático; não admitindo questionamentos. Envolve temor e sobre naturalidade; se não forem seguidas as determinações dos deuses, haverá castigo!
 Nos dias de hoje, o mito abrange ainda mais que isto, abrange também o desejo de satisfação sem esforço que acaba vulgarizando até mesmo o mito. Hoje em dia o mito é muito mais humano que sobrenatural, bastando para isso que haja satisfação material para existir.
                                                               
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TARNAS, Richard – a Epopéia do Pensamento Ocidental. Rio de Janeiro- Bertrand Russek, 1999
CHAUI, Marilena – Introdução à História da Filosofia – Brasiliense. São Paulo. 1994
CHAUI, Marilena – Convite à Filosofia – Ática. São Paulo 2005
SÁTIRO, Angélica e WUENSCH, Ana Maria – Pensando Melhor-n Saraiva 1999
TELES, Antônio Xavier – Introdução ao Estudo da Filosofia – Ática. São Paulo 1999